COC – Centro de Oncologia Campinas

Câncer Infantojuvenil

O câncer infantojuvenil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. Diferentemente do câncer do adulto, o câncer infantojuvenil geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. Por serem predominantemente de natureza embrionária, tumores na criança e no adolescente são constituídos de células indiferenciadas, o que, geralmente, proporciona melhor resposta aos tratamentos atuais.

Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático).

Também acometem crianças e adolescentes o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal), tumor de Wilms (tipo de tumor renal), retinoblastoma (afeta a retina, fundo do olho), tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos), osteossarcoma (tumor ósseo) e sarcomas (tumores de partes moles).

Assim como nos países desenvolvidos, no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos.

Nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância e na adolescência foi extremamente significativo. Hoje, em torno de 80% das crianças e adolescentes acometidos da doença podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados. A maioria deles terá boa qualidade de vida após o tratamento adequado.

Estatística

A estimativa para novos casos para o ano de 2020 foi de 8.460 sendo que 4.310 para o sexo masculino e 4.150 para o sexo feminino. O número de mortes foi estimado para o ano de 2019 em 2.554, sendo 1.423 para homens e, 1.131 para mulheres.

Tipos

Os tipos de câncer que mais acometem as crianças são:

  • Leucemia: as leucemias são os cânceres infantis mais comuns e acometem a medula óssea e o sangue. Os tipos mais frequentes em crianças são a leucemia linfóide aguda (LLA) e a leucemia mieloide aguda (LMA). A leucemia pode causar dor nos ossos e articulações, fadiga, fraqueza, sangramento, febre, perda de peso entre outros sintomas. As leucemias agudas podem progredir rapidamente, por isso precisam ser tratadas (normalmente com quimioterapia) assim que é feito o diagnóstico.
  • Tumores cerebrais e do Sistema Nervoso central (SNC): os tumores cerebrais e do sistema nervoso central são o segundo tipo mais comuns em crianças, representando 26% dos cânceres infantis. Existem muitos tipos de tumores cerebrais e o tratamento e prognóstico de cada um é diferente. A maioria dos tumores cerebrais em crianças se inicia na parte inferior do SNC, como cerebelo e tronco cerebral. Esses tumores podem provocar dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão turva ou a, tontura e dificuldade para caminhar ou manipular objetos. Os tumores de medula espinhal são menos comuns do que os tumores cerebrais tanto em crianças como em adultos.
  • Neuroblastoma: é uma forma de câncer que se inicia precocemente nas células nervosas encontradas em um embrião ou feto em desenvolvimento, sendo responsável por cerca de 6% dos cânceres infantis. Esse tipo de câncer ocorre em lactentes e bebês. Raramente é diagnosticado em crianças com mais de 10 anos. Esse tumor pode começar em qualquer local, mas geralmente é diagnosticado no abdome, sendo percebido pelo aparecimento de inchaço na região. Também pode causar dor óssea e febre.
  • Tumor de Wilms: o tumor de Wilms é um tumor que começa em um, ou raramente, ambos os rins. É mais frequentemente diagnosticado em crianças de 3 a 4 anos de idade, sendo incomum em crianças mais velhas e adultas. Ele pode surgir como um inchaço ou nódulo no abdome. Algumas vezes, a criança pode apresentar outros sintomas, como febre, dor, náuseas ou falta de apetite. O tumor de Wilms representar 5% dos cânceres infantis.
  • Linfomas: os linfomas se iniciam nos linfócitos, que são células que fazem parte do sistema imunológico. Os linfomas frequentemente afetam os gânglios linfáticos e os tecidos linfáticos, como amígdalas ou timo. Eles também podem afetar a medula óssea e outros órgãos provocando sintomas diferentes dependendo do local onde está se desenvolvendo. Os linfomas podem causar perda de peso, febre, sudorese, fraqueza e aumento de tamanho dos linfonodos do pescoço, axilas e virilha. Existem dois tipos principais de linfoma: linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin. Ambos os tipos podem ocorrer tanto em crianças como em adultos.
  • Linfoma de Hodgkin: representa cerca de 3% dos cânceres infantis. É mais comum, porém, em dois grupos etários: início da idade adulta (geralmente pessoas com 20 anos) e após os 55 anos. O linfoma de Hodgkin é raro em crianças menores do que 5 anos de idade. Esse tipo de câncer é muito semelhante em crianças e adultos.
  • Linfoma Não Hodgkin: representa cerca de 5% dos cânceres infantis. É mais provável que ocorra em crianças pequenas comparado com o Linfoma de Hodgkin, mas ainda é raro em crianças menores de 3 anos. Os tipos mais comuns de linfoma não Hodgkin em crianças são diferentes daqueles observados em adultos. Esses cânceres frequentemente crescem rápido e necessitam de tratamento intensivo, mas também tendem a responder melhor ao tratamento do que a maioria dos linfomas não Hodgkin em adultos.
  • Rabdomiossarcoma: o rabdomiossarcoma começa nas células que normalmente se desenvolvem nos músculos esqueléticos, que participam do movimento do corpo. Ele pode ocorrer na cabeça e no pescoço, virilha, abdome, pelve ou nos membros (braços e pernas). Ele pode causar dor e/ou inchaço. É o tipo mais comum de sarcoma de partes moles em crianças, representando cerca de 3% dos cânceres infantis.
  • Retinoblastomas: é um câncer do olho e representa cerca de 2% dos cânceres infantis. Geralmente ocorre em crianças na faixa etária de 2 anos e raramente é diagnosticado em crianças com mais de 6 anos. Os retinoblastomas são normalmente diagnosticados porque os pais ou o médico percebem algo atípico no olho da criança. Normalmente, ao direcionar uma luz ao olho de uma criança, a pupila aparece vermelha devido ao sangue dos vasos do fundo do olho. No olho com retinoblastoma, a pupila, tem o aspecto branco ou rosa. Este brilho branco no olho geralmente é percebido em fotos tiradas com flash.
  • Tumores ósseos: os tumores ósseos ocorrem mais frequentemente em crianças mais velhas e em adolescentes, mas podem se desenvolver a qualquer idade. Eles representam cerca de 3% dos cânceres infantis. Os 2 tipos principais de tumores ósseos que acometem crianças são o osteossarcoma e o tumor de Ewing.
  • Osteossarcoma: é mais comum em adolescentes e, normalmente, desenvolvem-se em áreas onde o osso encontra-se em crescimento, como os ossos longos das pernas ou braços. Muitas vezes provoca dor que piora à noite ou com atividades. Também pode provocar inchaço na região onde está localizado o osso.
  • Tumor de Ewing: é um tipo de câncer ósseo menos comum. Acomete principalmente adolescentes. Os locais mais comuns são: os ossos da pelve, tórax ou na parte do meio dos ossos da perna. Os sintomas podem incluir dores e inchaços.

Fatores de Risco:

Ao contrário de muitos cânceres de adultos, os fatores de risco relacionados com o estilo de vida (como o tabagismo) não influenciam o risco de uma criança desenvolver câncer. Muito raramente uma criança pode apresentar alterações genéticas que as tornem propensas a ter um certo tipo de câncer.

Prevenção

Nos tumores da infância e adolescência, até o momento, não existem evidências científicas que deixem claro a associação entre a doença e os fatores ambientais. 

Sinais e Sintomas:

Os pais devem estar alertas ao fato de que a criança não inventa sintomas. Ao sinal de alguma anormalidade, devem levar seus filhos ao pediatra para avaliação. Na maioria das vezes, os sintomas estão relacionados a doenças comuns na infância, mas isso não deve ser motivo para descartar as visitas ao médico.

A manifestação clínica dos tumores infantojuvenis pode não diferir muito de doenças benignas (sem maior gravidade) comuns nessa faixa etária. Muitas vezes, a criança ou o jovem está em condições razoáveis de saúde no início do adoecimento. Por esse motivo, o conhecimento do médico sobre a possibilidade de ser câncer é fundamental. Algumas formas de apresentação do câncer podem ser:

  • Nas leucemias, pela invasão da medula óssea por células anormais, a criança se torna mais sujeita a infecções, pode ficar pálida, ter sangramentos e sentir dores ósseas.
  • No retinoblastoma, um sinal importante é o chamado “reflexo do olho do gato”, embranquecimento da pupila quando exposta a luz. Pode se apresentar, também por meio de fotofobia (sensibilidade exagerada à luz) ou estrabismo (olhar vesgo). Geralmente acomete crianças antes dos 3 anos. Atualmente, a pesquisa desse reflexo pode ser feita desde a fase recém-nascido.
  • Aumento do volume ou surgimento de massa no abdômen podem ser sintomas de tumor de Wilms (que afeta os rins) ou neuroblastoma.
  • Tumores sólidos podem se manifestar pela formação de massa, visível ou não, a causar dor nos membros. Esse sintoma é frequentemente, por exemplo, no osteossarcoma (tumor no osso em crescimento), mais comum em adolescentes.
  • Tumor de sistema nervoso central tem como sintomas dores de cabeça, vômitos, alterações motoras, alterações de comportamento e paralisia de nervos.

Diagnóstico

O tratamento do câncer começa com o diagnóstico correto. Para isso, é necessário um laboratório confiável e o estudo de imagens.

Nos tumores sólidos, um estudo de imagem orienta para o procedimento inicial a ser realizado: algumas vezes é possível abordagem cirúrgica para a ressecção completa do tumor. Quando não for possível, será realizada uma biópsia para fornecer o diagnóstico histopatológico e início do tratamento quimioterápico. Nestes casos, a ressecção do tumor ocorrerá em um segundo momento. Dessa forma, atualmente consegue-se evitar cirurgias que causem muitos danos ao paciente, mantendo-se uma boa chance de cura. Somente em algumas situações muito específicas, o exame de imagem é suficiente para iniciar um tratamento.

Tratamento

O tratamento do câncer infantil é determinado com base no tipo e estadiamento da doença. As opções podem incluir cirurgia, radioterapia e quimioterapia e, por ser complexo, deve ser realizado em centro especializado. Esses tratamentos devem ser aplicados de forma racional e individualizada para cada tumor específico e de acordo com a extensão da doença.

Alguns tipos de câncer infantil podem ser tratados com altas doses de quimioterapia seguida de um transplante de células tronco. Algumas novas opções terapêuticas como a terapia alvo e imunoterapia, também se mostraram promissoras no tratamento de alguns tipos de cânceres infantis.

Apesar de existirem exceções, os cânceres infantis geralmente respondem bem à quimioterapia, uma vez que a maioria das formas de quimioterapia afeta as células que estão em desenvolvimento. O organismo das crianças geralmente se recupera mais rapidamente de altas doses de quimioterapia do que o dos adultos. O uso de tratamentos mais intensivos permite uma melhor oportunidade de tratar a doença de forma eficaz, mas também pode levar a mais efeitos colaterais de curto e longo prazo. É possível fazer o equilíbrio das necessidades do tratamento intensivo, com a redução, tanto quanto possível, dos efeitos colaterais.

O tratamento coordenado de vários especialistas (oncologistas, pediatras, cirurgiões pediatras, radioterapeutas, patologistas, radiologistas, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos) também é determinante para o sucesso.

Referências

Instituto Nacional do Câncer Tipos de câncer. Câncer Infantojuvenil. Disponível em:  https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-infantojuvenil  Acesso em: 21/06/2021.

Fundação do Câncer. Infantil. Disponível em: https://www.cancer.org.br/a-fundacao/o-que-fazemos/cancer-infantojuvenil/  Acesso em: 21/06/2021.

Instituto Oncoguia. Tipos de Câncer. Câncer Infantil. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/tratamentos/2487/124/ Acesso em: 21/06/2021. 

Mitos e Verdades

Mito: Apesar de grande parte dos tratamentos quimioterápicos provocarem queda de cabelo, isso não ocorre necessariamente com todos os pacientes. A queda capilar depende do tipo de tumor e do medicamento utilizado. Doses mais intensas de quimioterapia costumam aumentar o risco desse efeito colateral.

Mito: Nos períodos em que o paciente estiver clinicamente bem, é permitido frequentar a escola e até mesmo outros locais, como parques. No entanto, deve-se tomar cuidado redobrado quando houver casos de doenças na escola ou na classe do paciente, pois a imunidade da criança em tratamento oncológico é mais baixa. Muitos pais acreditam que durante o tratamento devem manter os filhos em casa. Mas eles podem sair mantendo-se alguns cuidados, como por exemplo: evitar lugares fechados e aglomerados, como hipermercados e transporte público, devido ao maior risco de contrair alguma infecção.

Verdade: Apesar de oferecerem maior concentração de nutrientes, os alimentos crus são mais propensos a conter microrganismos, aumentando o risco de infecções. Por isso, tais alimentos devem ser evitados. O nutricionista que acompanha o tratamento é o profissional ideal para indicar quais frutas e verduras podem ser consumidas.  Também é importante evitar se alimentar em restaurantes, lanchonetes ou outros estabelecimentos, por não ser possível verificar a procedência e a higienização dos produtos.

Verdade: As águas do mar e da piscina são ambientes que oferecem alto risco de contaminação, devido à alta concentração de produtos químicos ou bactérias. Devido à queda na imunidade provocada pelo tratamento, os pacientes oncológicos devem evitar praias e piscinas.
A exposição à luz solar em excesso também pode trazer riscos. Caso uma criança em tratamento quimioterápico precise sair ao ar livre, recomenda-se escolher horários de sol mais ameno (antes das 10h e depois das 16h), o uso de protetor solar e permanecer preferencialmente na sombra.

Mito: O animal não precisa ser retirado da residência de um paciente em tratamento.  Porém, deve-se tomar uma série de cuidados para que o contato da criança com o bicho não ofereça risco de contaminação. O paciente não pode ter contato com os excrementos dos animais, tampouco deixá-lo dormir na mesma cama. Preservar-se de atos como lambidas no rosto, arranhões e mordidas também é importante.

Mito: Apesar do câncer infantil não estar diretamente associado a fatores como dieta e sedentarismo, não se determina a predisposição genética como o único fator de risco. Pelo contrário, menos de 10% dos pacientes pediátricos tem a hereditariedade como causa da doença. A razão para a maioria dos casos de câncer infantil ainda é desconhecida.

Verdade: O cuidado com o paciente pediátrico deve permanecer após a alta para avaliação de possíveis efeitos tardios decorrentes da terapia ou mesmo da possibilidade de recidiva da doença. Esse acompanhamento clínico busca assegurar melhor qualidade de vida para a criança e adolescente ao longo de sua vida.

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