COC – Centro de Oncologia Campinas

Apesar do rastreio e da vacina, mortalidade por câncer de colo de útero segue alta

O câncer de colo de útero pode ser evitado por meio de vacina e apresenta potencial de erradicação. Há protocolos de prevenção disponíveis na rede pública, com a realização de exames de Papanicolau, e vacinação gratuita contra HPV dentro do Plano Nacional de Imunização (PNI). Ainda assim, as taxas de mortalidade por câncer de colo de útero não apresentam redução significativa no Brasil. São mais de 6,5 mil óbitos e 16 mil novos casos anuais.

Se existem instrumentos para melhorar os índices, então por que não se nota progresso no combate e prevenção ao câncer de colo de útero, objeto da campanha Março Lilás? O oncologista e ginecologista Eiji Kashimoto, do Centro de Oncologia Campinas, cita a ausência de campanhas mais efetivas para orientação sobre a doença e sobre a oferta de vacina contra o HPV como um dos fatores e também sugere mudanças.

“Apesar de ter implantado o rastreamento, a mortalidade não caiu tanto nos últimos anos. Foi introduzida a vacina, e ainda assim não reduziu. Isso mostra que estão usando as ferramentas de uma forma errada e que é preciso rever o programa de prevenção, mudar a política e fazer uma busca ativa do público-alvo”, sugere.

A exceção do câncer de pele não melanoma, o câncer de colo de útero, também chamado de cervical, é o terceiro mais comum entre as mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer. Responde por 7,5% dos casos e fica atrás dos cânceres de mama (29,7%) e cólon e reto (9,2%). Depois vêm pulmão (5,6%) e tireoide (5,4%).

Mais de 95% dos casos de colo do útero no Brasil se originam do HPV – sigla em inglês para papilomavírus humano, que são vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas e o trato ano-genital. Além de lesões em colo uterino (as principais), os tipos de câncer por HPV podem ser de vulva, vagina, ânus, orofaringe, cavidade bucal e laringe. Juntos, representam mais de 10% de todos os casos de câncer que acometem as mulheres, informa o Inca.

Vacina contra HPV

As vacinas contra HPV são preventivas e oferecidas gratuitamente pelo SUS desde 2014. Como é importante receber as duas doses antes do início da vida sexual, o PNI contempla meninas de 9 a 14 anos, e meninos de 11 a 14 anos. Em 2020, conforme dados do Ministério da Saúde, apenas 55% das meninas na faixa etária tomaram as duas doses da vacina; entre os meninos o índice foi de 36,4%.

“Está claro que há uma resistência à vacina HPV, um certo preconceito, mas também não existe vacina para todos no SUS. Quem perde essa janela etária não consegue mais se vacinar gratuitamente”, explica Eiji Kashimoto, que se mostra otimista quanto à melhora dos números de prevenção do câncer do colo do útero. “A mentalidade está mudando. Já passamos a primeira geração de vacinados, agora eles estão adultos e estão conscientizando as outras pessoas”, confia.

Campanha de prevenção ao câncer de colo de útero

A tendência, confia o especialista, é de melhora dos índices a médio prazo, desde que também se aprimore a divulgação de campanhas e se estenda os benefícios da vacina e do Papanicolau a todos que hoje desconhecem as iniciativas simples que podem salvar vidas.

“O que deve estar ocorrendo é que provavelmente estão fazendo exames de Papanicolau sempre nas mesmas mulheres, num público pequeno. Pode até ser um grande número de exames anuais, mas eles não contemplam a população em geral. É preciso ajustar a política para que haja mais divulgação, mais equidade. E isso não tem relação necessariamente com classe socioeconômica. É questão de informação e orientação”.

Rastreamento

Conforme o Inca, o método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil é o exame citopatológico (Papanicolaou), que deve ser realizado na faixa etária de 25 a 64 anos, após o início da vida sexual. A periodicidade na rede pública de saúde é a cada três anos.

O câncer de colo de útero, lembra o ginecologista do Centro de Oncologia Campinas, não costuma afetar mulheres jovens. “Como geralmente provém de HPV, a média de surgimento é de 45 anos porque é um processo lento. Normalmente é no final da adolescência que se contrai o HPV e todo o ciclo até o surgimento do câncer exige tempo”, descreve

Assim como a maioria dos tipos de câncer, o tempo de detecção do tumor é determinante do êxito do tratamento. “O prognóstico é bom desde que seja detectado em estágios iniciais. Em estágios avançados o prognóstico é ruim”, reforça.

Sintomas de câncer de colo de útero

Eiji Kashimoto reforça a necessidade de as mulheres conhecerem os sinais do câncer de colo de útero, além dos métodos de prevenção. “Sangramento após a relação sexual, corrimento diferente, sangramentos persistentes após a menopausa, e dor na pélvis são alguns dos sintomas que o câncer de colo de útero pode apresentar”, lista o especialista.

Como a doença apresenta poucos sintomas na fase inicial, a doença pode ser detectada em diferentes estágios. “Normalmente os mais jovens apresentam casos menos graves que os mais velhos, pelo próprio tempo mais reduzido de evolução da doença”, explica, reforçando o valor da prevenção. “É um câncer evitável, desde que se preste atenção aos sintomas e se faça o Papanicolau.”

Vídeo

No vídeo abaixo, Talita Coelho Paiva, oncologista no Centro de Oncologia Campinas, explica brevemente sobre o câncer de colo de útero, importância das campanhas de conscientização e vacina contra HPV.