COC – Centro de Oncologia Campinas

Mamografia: apesar dos progressos, ainda há muito a se conquistar

A importância da mamografia levou à criação de Lei Federal que institui 5 de fevereiro como o “Dia Nacional da Mamografia”. O desafio do diagnóstico precoce do câncer de mama, apesar de ter progredido muito em suas metas, ainda incita diferentes lutas, observa o oncologista André de Moraes, do Centro de Oncologia Campinas. São questões relacionadas à acesso, informação e equidade.

O que é mamografia?

A mamografia é um exame de rastreio por imagem que tem como objetivo detectar um nódulo no tecido mamário, mesmo que ainda não seja palpável ou na ausência de sintomas ou alterações da mama.

Ou seja, o exame de mamografia pode detectar o câncer em seus estágios iniciais, o que ajuda no sucesso do tratamento. Por isso, o exame anual é indicado para todas as mulheres acima dos 40 anos.

Para o exame, é utilizado um equipamento de raios-x para obtenção de imagens radiográficas do tecido mamário. Nos exames de rastreamento, geralmente são obtidas imagens das duas mamas em ângulos diferentes.

Desafios do sistema de saúde: acesso, informação e equidade

Ofertar na rede pública um sistema de rastreio e de tratamento de primeira linha, equiparado ao disponibilizado pela rede privada, é um dos grandes desafios da saúde, lembra o oncologista. Segundo ele, é essencial ainda quebrar barreiras educacionais e estabelecer o diagnóstico precoce como regra de conduta. E, ainda, encontrar caminhos para estender a outros tipos de câncer a mesma atenção dispensada ao de mama no que se refere à oferta de meios para a detecção precoce.

“A disponibilidade de acesso aos sistemas de rastreio é um grande desafio do câncer. Tem campanhas e ofertas de mamografias, mas não de endoscopia, por exemplo. Há também o desafio educacional para poder vencer as barreiras e crenças que ainda bloqueiam o diagnóstico precoce e o desafio do custeio”, enumera Moraes.

Os exames de mamografia, observa Moraes, passaram a integrar a rotina de cuidados com a saúde das mulheres graças ao aumento da oferta e às campanhas de prevenção ligadas ao câncer de mama. O entrave está no que vem depois dos primeiros passos – os tratamentos e recursos cirúrgicos e terapêuticos.

“Nós temos muitos problemas com a saúde pública ainda, estamos bastante defasados do ponto de vista dos recursos terapêuticos para a maior parte dos diagnósticos. A nação precisa dirigir um esforço concentrado nesta área para garantir que todas as pessoas alcancem os tratamentos melhores para aquela situação. E que o sistema único de saúde também olhe para a sustentabilidade do sistema”, opina.

O oncologista André Moraes pontua que para que os pacientes recebem tratamento adequado, é necessário que as instituições responsáveis por eles tenham também “boa saúde”. “Não adianta, por exemplo, fornecer um medicamento de alto custo aos usuários do SUS, se não mantiver o custeio das instituições responsáveis por atendê-los. Não basta conseguir recursos e ampliar a cobertura medicamentosa. Você também tem que conseguir recursos para melhorar a condição operacional do sistema de saúde, que é o que está faltando hoje.”

O contrassenso indicado pelo especialista é baseado também no sucateamento das instituições. “Não houve qualquer melhoria no custeio dos tratamentos, os hospitais estão sendo remunerados de maneira defasada, de maneira a colocar em risco a estrutura hospitalar que é capaz de fornecer esses tratamentos gratuitamente”, alerta.

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Pandemia como agravante

A pandemia do novo coronavírus acentuou os problemas apontados por André de Moraes. Testada ao limite, a saúde pública foi obrigada a fazer escolhas, deixar de lado procedimentos eletivos, consultas e casos de menor gravidade para priorizar o combate à Covid-19.

Levantamento da Fundação do Câncer apontou que a procura por exames, como a mamografia, teve queda de 84% durante a pandemia. Outra pesquisa, feita pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, mostrou que 71% dos pacientes do SUS tiveram dificuldades para fazer exames, e outros 66% enfrentaram problemas para conseguir consultas.

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A importantância da mamografia

Quando o represamento de atendimentos começava a se dissipar, nova onda da pandemia voltou a sobrecarregar o sistema de saúde. Porém, a vacinação permite agora a retomada da rotina de cuidados da saúde, que inclui os exames de mamografia.

No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde – assim como a da Organização Mundial da Saúde – é a realização da mamografia de rastreamento em mulheres com idade a partir dos 50, uma vez a cada dois anos, como forma de identificar o câncer antes do surgimento de sintomas.

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), porém, indica o exame anual a partir dos 40 anos. Já nos casos de mulheres com risco aumentado, como história familiar da doença, a recomendação é para iniciar o acompanhamento mais cedo.

Estudos mostram que há 95% de chances de cura dos cânceres de mama diagnosticados precocemente.

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Direitos da paciente com câncer de mama

Confira os principais benefícios a que tem direito as pacientes com câncer de mama:

  • Auxílio-doença: benefício mensal para paciente que fica temporariamente incapaz para o trabalho, devido à doença, por mais de 15 dias consecutivos. O paciente com câncer tem direito ao benefício independente do pagamento de 12 contribuições, desde que esteja na qualidade de segurado.
  • Aposentadoria por invalidez: se a paciente tiver alguma sequela permanente, ela terá o direito a se aposentar por invalidez. O direito também se aplica a trabalhadores autônomos e Microempreendedor Individual (MEI). A incapacidade, contudo, será comprovada por meio de uma perícia médica do INSS.
  • Saque FGTS e PIS: se estiver cadastrada no FGTS, a paciente com câncer ou que tenha dependente portador da doença poderá fazer o saque do FGTS. Além disso, o PIS pode ser retirado na Caixa Econômica Federal.
  • Isenção de impostos: o paciente com câncer pode obter a isenção do IPVA, ICMS e IPI, além da isenção do imposto de renda na aposentadoria. Para isso, o paciente precisa comparecer ao Detran e solicitar uma via de serviço para a junta médica e realizar uma perícia médica.
  • Reconstrução mamária: as pacientes oncológicas que fizeram a mastectomia – cirurgia de retirada de mama – parcial ou total tem o direito à cirurgia plástica de reparação, tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quanto pelos planos de saúde.
  • Direito a acompanhante: caso a paciente seja segurada do INSS e necessite de assistência permanente de outra pessoa, poderá solicitar um acompanhante.

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